segunda-feira, 19 de outubro de 2015

É preciso gastar dinheiro para virar minimalista?

Um amigo me mandou o artigo Beware the Expense of Embracing a Minimalist Lifestyle.

Em um primeiro momento, o que mais me chamou a atenção foi a abordagem equivocada. O texto parte do pressuposto de que é caro virar minimalista porque você tem que trocar todas as suas coisas por outras coisas. Por exemplo, você tem que se livrar de todas as suas roupas para comprar roupas "minimalistas".

Mas, lá no final, a autora mesmo admite que algumas pessoas usam o minimalismo como desculpa para comprar. O que me faz pensar que a abordagem inicial do texto (e o título) era para causar polêmica.

Porque a verdade é que o status quo, isto é, o modo como nosso mundo funciona, sempre dá um jeito de absorver qualquer comportamento que tente fugir da sua lógica.

Um exemplo claro disso é como o capitalismo abraçou a corrida. Porque correr teoricamente era pra ser o esporte mais barato e democrático de todos. É só calçar um tênis (ou nem isso - dá pra correr na praia ou na grama descalço) e ir pra rua. Mas, quanto mais as pessoas foram abraçando a corrida, mais o mercado foi tomando-a para si. Hoje, quase todo mundo que eu conheço que corre paga uma mensalidade para participar de um grupo de corrida, usa tênis, roupas e apetrechos caros, participa de competições pagas e por aí vai.

Claro que o mercado e o capitalismo vão tentar pegar o minimalismo para eles, como fazem com tudo. E claro que as pessoas que gostam de comprar podem usar desculpas para fazê-lo mesmo em nome do minimalismo. Mas isso não é um problema do estilo de vida minimalista, e sim da cultura consumista.

É importante entender essa diferença para não cair em armadilhas das nossas próprias mentes (e da sociedade, claro). Por essas e por outras que eu prefiro um processo de desapegar aos poucos, se conhecendo e adaptando a sua vida, as suas posses e o seu consumo de acordo com isso.

20 comentários:

  1. Nossa, eu estava pensando exatamente nisso. Estou fazendo aulas de zumba e pagando caro por duas horas por semana só para fazer exercícios, coisa que eu poderia estar fazendo sem gastar nada e com a mesma eficiência e nos horários em que me cabem. Mas o fazer parte de um grupo me incentivou a entrar numa escola de dança, e quando entrei não foi nem pelo fato de fazer o exercício e sim para fazer parte, para estar em alta, confesso.
    Esse texto veio bem a calhar, não só nessa parte da minha vida, mas como uma forma de pensar antes de iniciar qualquer coisinha, mesmo que pareça inofensiva. Nossa mente consumista pode estar por trás de certas coisas que fazemos. Parabéns pelo texto!

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    1. Ei, Érica!
      Fazer atividades físicas - ou outras como aprender uma língua - em grupo tem o seu apelo e sua importância. Isso seja inegável. É um fator que devemos considerar na hora de escolher fazer algo, com certeza.
      Mas uma coisa legal, nesses casos, por exemplo, é pensar na possibilidade de fazer algumas aulas coletivas e praticar outros dias sozinha.
      Cada caso é um caso e sempre temos que pensar nos fatores envolvidos. O importante é ter essa consciência do que se está consumindo - se vale a pena ou não. Pelo menos é o que eu penso.
      Obrigada ;)

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  2. Concordo, Fê: a abordagem do texto foi equivocada. Parece que autora está buscando mais a estética minimalista do que a filosofia em si.

    Claro que a pessoa pode ser minimalista e gastar uma fortuna (falei disso aqui: http://minimalizo.blogspot.com.br/2012/08/minimalismo-x-economia.html). Mas não é uma necessidade, não.

    Quanto à questão de se livrar de um monte de coisas e depois precisar de UMA delas, acho que é um efeito colateral aceitável. Até porque, se a gente tem muito menos objetos para limpar, cuidar, guardar e manter, isso acabando gerando uma economia (que pode ser imensa se você se mudar para um apartamento menor ou abrir mão de um carro). Aí, recomprar UM dos itens que você não tem mais me parece bem razoável.

    Beijos

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    1. Concordo com tudo, Lud!

      E realmente é um efeito colateral aceitável e, pelo menos na minha experiência, raro. Lembro disso ter acontecido comigo uma vez. E, quando aconteceu, ao invés de comprar, eu peguei emprestado, já que era pra um uso pontual.

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  3. Super concordo com o texto. Agora está em alta o "armário cápsula", que parte de um conceito bacana: não precisamos ter tanta roupa, nem tanto sapato, nem tanto de nada. A pessoa poderia se vestir bem e se sentir bonita e arrumada com cerca de 40 peças, entre tudo. Poupam-se os recursos naturais, tendo em vista que a industria da moda é uma das mais poluentes, deixamos de explorar os chinesinhos que fabricam as roupas, etc etc. Tudo mto bom.
    E o que temos hoje? Um monte de gente montando seus armários cápsula, mas pra fazer isso querem comprar as 40 peças novas... "Descobrem" que pra montar o AC precisam de uma camiseta cinza, outra branca e preta, umas sapatilhas básicas - e que dane a proposta de reduzir o consumo.

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    1. Isso acontece mesmo, Vania. E percebe que não faz sentido?

      Eu falo que o minimalismo é um processo, e que prefiro caminhar nele aos poucos por isso. Então, eu não jogo meu armário fora. E sim, quando eu precisar comprar algo novo (porque as roupas acabam ou param de servir), eu compro focando nesse conceito. Acho que faz muito mais sentido. Concorda?

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  4. Ótima reflexão! Vi isso tambem no ciclismo: eu só precisava de uma bicicleta. Agora é capacete, luva, farol, roupa de ciclismo, equipamentos, trocar a bike com menos de um ano... Essa industria do entretenimento esta buscando alternativas pra incluir gasto em cima de gasto no nosso lazer..

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    1. Tem toda razão, Bruna. Quando li seu comentário, lembrei de "Admirável Mundo Novo", um livro de ficção científica antigo que previa um futuro em que todas as atividades recreativas envolviam parafernália e eram caríssimas, ficando restritas aos mais ricos. Estamos bem perto disso, não é?

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  5. Acho que o conceito de minimalismo ainda não está bem claro para todos e muitas pessoas estão buscando essa filosofia de vida de forma errada.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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  6. Percebo muitos blogueiros e youtubers seguindo esse tipo de lógica. Parece que o que existe de mais atraente no minimalismo é justamente a cartela de cores reduzida, design simples, novidades tecnológicas etc. E quer saber? Até eu caí nessa... :-(

    Felizmente existem blogs como o seu. Que prezam mais por reflexões com crivo crítico do que apenas objetos de desejo.

    By the way, o movimento artístico minimalista dos anos sessenta era intensamente colorido nas obras de Donald Judd e Dan Flavin, por exemplo. Essa parada de preto e branco minimalista tem nada a ver...

    Bjo!

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    1. Hahahaha.. Ótima reflexão, Marianna!

      A Lud comentou acima que essas pessoas adotam um minimalismo mais estético do que qualquer outra coisa. Eu também não curto as coisas sem cor. Minha casa tem super poucos móveis, quase nenhum enfeite, mas meus móveis são todos coloridos justamente pra dar uma alegria por ambiente sem precisar de milhões de enfeites ou ficar com aquela cara de hospital.

      Beijo!

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  7. Fernanda... essa ideia de que é preciso gastar para ser minimalista é meio sem lógica. Pois acontece o contrário, diminuição do consumo e do gasto!? Talvez seja o modismo, quem sabe ser minimalista está na moda e é fashion, sei lá! Acho que a febre passa, e quem de fato busca viver uma vida com mais sentido, fica!

    beijos

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    1. Concordo plenamente, Andreia. E acredito mesmo que vai ser assim mesmo :)
      Beijo!

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  8. Olá Fernanda, escrevi sobre a minha experiência com o minimalismo e te faço o convite para nos falar sobre sua vivência também. Beijos http://nadadecompras.blogspot.com.br/2015/10/como-eu-me-tornei-minimalista.html

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  9. Concordo! O minimalismo, assim como tudo, precisa de críticas.

    Eu também fiz a minha: https://jesusnaoecristao.wordpress.com/2014/10/18/os-problemas-do-minimalismo/

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    1. Eu concordo com suas críticas demais. Acho que tem uma visão limitada do movimento minimalista também. Engraçado que, no meu caso, o minimalismo me trouxe cada vez mais visão coletivista, o entendimento de que não somos nada sozinhos, e a percepção de que esse papo de produtividade, crescimento profissional e tal pode ser uma grande armadilha capitalista. Concordo demais com você.

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