quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Desapegando da necessidade de ser

A gente sempre vê por aí aquela máxima de que é mais importante ser do que ter. Até que concordo um pouco. Possuir e acumular objetos não deveria ser tão valorizado quanto é, o que só aumenta o consumismo e gera uma insatisfação constante.

O problema é que há hoje uma pressão por "ser" que também não me parece saudável. Gera tanta ansiedade e frustração quanto a pressão do consumo, e na maior parte das vezes também consome tempo, dinheiro e nossas energias.

A gente tem que ser feliz, bem sucedido profissionalmente, rico, saudável, magro, culto, viajado, falante de várias línguas, praticante de esportes, bem informado, engraçado, sociável, bem humorado... Bônus se a gente tocar um instrumento, saber dançar ou desenhar, cozinhar pratos exóticos... A lista é enorme. No caso das mulheres, temos ainda toda uma pressão para sermos bonitas.

Eu lembro da época da faculdade em que a Lud brincava que sempre estava na capa da revista que "fulana perde 20 quilos" e que a gente ficava se comparando e se sentindo mal, quando na verdade a gente conquistava várias outras coisas que não apareciam nas capas de revista, como passar no exame da OAB (ela tinha acabado de fazer o exame, na época). É um ponto válido. 

Mas não pára por aí. As exigências da sociedade não são apenas estéticas. Há toda uma lista de coisas na vida que você deve ser. É tão exaustante, e tão limitador. 

É preciso tomar cuidado para não entrar nessa neurose, e para não substituir uma compulsão (a de consumir) por outra (a de ser).

9 comentários:

  1. Concordo com cada palavra!!!

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  2. É mesmo. Cada um tem de ser pela sua própria cabeça e não para corresponder a esteriotipos criados por outros e que na maioria dos casos não tem nada a ver com o que lhes faz feliz.

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    1. Eu também acho que é o ideal, mas nem sempre é fácil ter consciência disso e resistir às pressões, não é? É um exercício constante.

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  3. Sabe o que é pior? Tem coisas que não são nada naturais para mim, e por um tempo eu me condenei por não sê-las.
    Hoje eu procuro não me importar mais.

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    1. Que ótimo, Tatiana! Eu também procuro, e cada vez consigo me preocupar menos :)

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  4. Hehe... Dá para desconfiar mesmo. Mas mesmo quem foge da aparência geralmente cai pro lado das exigências intelectuais, o que também é meio opressivo e excessivo. Dureza...

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  5. Acho que isso acontece porque o capitalismo contemporâneo parou apenas de vender produtos e passou a vender experiências e estilo de vida; as experiências viraram commodities.
    A Apple deixa isso claro com a propaganda "Think Different". A lógica por trás dessa propaganda é que se você compra um produto Apple está adquirindo um estilo de vida "revolucionário", um "ser" diferente.

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    1. Tem toda razão. As propagandas são cada vez mais baseadas na imagem que o produto dá para a pessoa do que nas qualidades dele em si. Bem pensado...

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