sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Guest post: Descartando coisas e crenças

A Fer Santos deixou um depoimento ótimo nos comentários e eu pedi a ela para transformá-lo em um guest post. Achei muito legal encontrar alguém que faz os mesmos questionamentos - e encontra a mesma alegria nos resultados - que a Fernanda aqui do blog e eu.

Às vezes me parece que, para uma boa quantidade de mulheres, o minimalismo é complicado porque toca em um ponto nevrálgico: a aparência, e a nossa crença que precisamos ser belas para termos valor. Dá pra ser feliz sem um armário cheio de roupas e um banheiro cheio de cosméticos? Eu acho que dá, e a Fer acha também.

"Estou num processo intenso de avaliação dos meus valores como mulher e sobretudo como pessoa. E por isso estou te escrevendo pra dar um depoimento sobre a minha entrada no minimalismo.

Sempre fui uma criança peralta e curiosa. Gostava de ler. Tenho TDAH e por isso tinha hiperfocos de passar 3 dias seguidos lendo um livro sem querer fazer mais nada.Também gostei de Barbie, de brincar na rua, jogar futebol, fui uma criança feliz.

Mas aí chegou a adolescência e com ela todo tipo de encanações com a minha aparência. Eu não me achava bonita, nunca achei. Todo mundo dizia que eu tinha um corpo lindo, mas que meu nariz de batata e meu cabelo cacheado me deixava com cara de pobre. Sim, diziam ISSO. E hoje vejo q essa frase contém tantos absurdos (nariz e cacho classifica alguém socialmente? Ser pobre é defeito?) que prefiro nem me delongar nisso.

E nessa acabei crescendo com alguns valores bem distorcidos em relação a auto-imagem.
Maquiagem não era pra me sentir bonita, brincar com as cores. Maquiagem, pra mim, tinha uma função corretiva, de esconder meus “defeitos horríveis”.

Comecei a comprar muita roupa, andar super arrumada pra ficar “bonita”. Gastei fortunas nisso.

Sempre odiei salto, mas tinha vários pares pq “mulher sem alto não dá” e “tu tem corpão, mostra essas pernas que são o teu forte”.

Sempre gostei de ler, mas nos últimos anos percebi uma compulsão na compra de livros e não na leitura deles. Hoje vejo que comprava tantos livros porque eles representavam a imagem q eu queria projetar .

Tudo isso porque na minha cabeça, pra me sentir aceita eu tinha que estar adequada. E adequada, pra mim, era mais do q ser inteligente, culta, arrumada e bonita. ERA PARECER TUDO ISSO.

Só que esse ano fiz 34 anos. E começou a me bater um sentimento de PORQUE RAIOS EU VOU ME IMPORTAR COM QUEM SÓ VAI ME JULGAR? Por que eu preciso deixar de tomar cerveja com meus amigos pra passar o sábado no cabeleireiro? Por que é coisa de mulher? QUEM DISSE?

Resolvi adotar o minimalismo e está sendo libertador, porque eu não estou só descartando COISAS, mas sobretudo CRENÇAS que me aprisionavam.

Faz três meses que não compro NADA, doei várias coisas, sobretudo roupas q não combinavam comigo. Também parei de fazer as unhas, doei todos os meus saltos altos. Meu marido (q é única pessoa q me importa nesse contexto) me acha bonita e bacana de qualquer jeito.

Ainda uso corretivo, rímel. Adoro me maquiar, usar batom vermelho, acho lindo, teatral. Mas é um processo mais consciente, e sobretudo mais divertido. Curtição mesmo.

Mas é todo um processo. E teu blog me ajudou muito nesse sentido."

Gato feliz. Igual a gente.

3 comentários:

  1. Nossa! Que legal!
    Tanta coisa com que me identifico.
    Desde ler livros obsessivamente por 3 dias, passando por tentar me corrigir toda na adolescência, até por essa epifania de se pegar no salão enquanto os outros se divertem. No meu caso, era eu fazendo unha e meu namorado jogando futebol.
    Mas eu confesso que essa de fazer unha no salão eu ainda não venci. Ainda me sujeito. Mas está na minha lista pro futuro próximo.
    Adorei!

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  2. Fer,
    você não tem ideia de como eu me identifico com você. Eu passava corretivo para ir à praia e providenciava o visual de uma festa duas semanas antes.
    Agora também sou mais simples e mais feliz!
    Beijos!

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  3. Pelo visto temos algumas coisas em comum. Só me falta a coragem de largar tudo e sair pelo mundo. Achei isso incríve!
    Bjs Lud.

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