quinta-feira, 25 de julho de 2013

Musashi e os perigoso da rigidez

Estou lendo o clássico Musashi, do escritor Eiji Yoshikawa, baseado em um personagem real da história japonesa.

O livro conta a história das andanças do jovem Miyamoto Musashi pelo Japão em busca de aprimoramento no caminho da espada. Musashi é um esgrimista que busca se tornar o melhor samurai de todos. O interessante é que as principais lições que ele aprende não são de como lutar e ser um cara forte e implacável. Ele precisa aprender a controlar a própria força e seu comportamento.

Entre as várias passagens que eu achei interessante, tem uma em que o Musashi, que é um aprendiz guerreiro muito disciplinado e sério, conhece uma gueixa de nome Yoshinho, muito famosa pelas sua habilidades artísticas. Ela toca um instrumento chamado biwa com maestria. Para ensinar uma lição a Musashi, ela destrói o instrumento, mostra a ele a peça transversal de madeira que sustenta o instrumento e diz:

Biwa
"Esta peça é o verdadeiro reforço que mantém o corpo, (...) suas entranhas, seu coração. No entanto, graça alguma haveria se esta fosse uma simples peça resistente e tesa. (...) O som verdadeiro da biwa surge, na verdade, de um pequeno detalhe nesta peça transversal: seus dois extremos estão aparados na medida certa, provocando uma ligeira folga na rigidez da peça. O ponto que eu, com toda a humildade, gostaria de vê-lo compreendendo é o seguinte: a atitude mental de todos nós, seres humanos, perante a vida não deveria ser semelhante à estrutura de uma biwa?

 (...)

E ao comparar essa imagem com o que percebi em sua pessoa esta tarde, senti o perigo a que está exposto, pois o senhor, Musashi-sama, é pura rigidez, nada existe em sua pessoa que represente a mínima folga. Se a uma biwa nessas condições encostássemos a palheta, o instrumento não produziria sons variados; e se mesmo assim insistíssemos em tocá-lo, suas cordas se partiriam e seu corpo se fenderia."

(Yoshikawa, Eiji. Edição para o Kindle. Posição 15815)

Eu tento lembrar disso sempre que começo a me cobrar demais, a tentar seguir com rigidez o minimalismo ou qualquer outra crença e valor que eu tenho. A gente precisa de folgas, de um relaxamento, para mantermos nossa personalidade em tudo que ela tem de mais diverso, nossas experiências e aprendizados e até mesmo nossa saúde.

Eu li a versão em amarelo, o volume I.
Depois do kindle, larguei mão de ler o volume enorme em papel.

14 comentários:

  1. Muito bom Fernanda! Gostei da reflexão. Desde que me propus a ficar um ano sem comprar, fico me cobrando muito e estou chegando à conclusão de que deveria ser começado com menos tempo. Estou pensando que preciso resolver isso. Por isso gostei muito do seu texto veio bem para a minha situação, obrigada!

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    1. Que bom que você gostou, Andreia! Gostei muito também quando li essa parte do livro. Tento sempre lembrar disso quando começo a me cobrar demais, de um jeito angustiante.

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    2. Vou lembrar disso também por eu me cobro muito e isso faz mal, acho que preciso de espaço para ser eu mesma. E depois eu comecei isso para melhorar a vida e não para ficar angustiada, né?

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    3. Exatamente! A gente tem que ser mais generosa com nós mesmas. Eu lembro quando eu pirei de peso na consciência porque compreis uns DVDs. Olha que bobagem a minha.

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  2. Amei!
    Eu li a versão amarela também.. Demorou muito mais do que o normal pois devido ao peso eu só lia em casa..
    No kindle tem a versão em português ou só em inglês?

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    1. Nem me fala, Michele. É pesadão mesmo. Eu também tive o mesmo problema e também demorei demais para ler o primeiro. O livro é enorme. Eu tô demorando bastante pra ler o segundo também, mesmo sendo no kindle. É que tem umas partes meio enroladas, sabe?
      Eu estou lendo a versão em português no kindle.

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    2. Ah vou procurar então! Geralmente no kindle leio em inglês para praticar mas musashi sem chance! Sei muito bem as partes enroladas rs..
      Obrigada!!!

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  3. Esta obra é um dos livros da minha vida! Eu amo amo amo

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    1. Também estou amando, camis! Ainda faltam uns 30% para eu terminar, mas já é um dos meus livros preferidos, daqueles que vale a pena ler e reler.

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  4. Oi Fernanda,

    É, eu sempre comparo esse sentimento, de super cobrança, com religião. Parece que a gente perde o foco, esquece o objetivo e se fixa no processo. É para melhorar a vida, não piorar.

    A questão da comparação com a religião é porque as religiões têm dogmas, coisas que alguém definiu que tem que ser assim, e se você quiser seguir, tem que acreditar. Não pode questionar muito, senão você está fora. Então quem está fora sou eu, hehehehe.

    Nunca tinha ouvido falar nesse livro, parece interessante. Eu não conheço nada de escritores japoneses, acho que só li um livro a minha vida inteira, o que é uma falta grave. Acho que vou colocar na lista para quando eu comprar um kindle.

    bj, Daniela

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  5. Mantra do dia, obrigada Fernanda.
    um grande abraço

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  6. muito bacana, fiquei pensando que isso deve ter um significado especial para os japoneses, que são rígidos por excelência...

    dica anotada ;-)

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