terça-feira, 12 de agosto de 2014

A questionável ligação entre viver e gastar dinheiro

Volta e meia essa mensagem abaixo aparece em alguma rede social. Se ainda não leram, cliquem para ampliar:


Não deve ser surpresa para ninguém que eu não me identifico nada com o texto, além de achá-lo uma bobagem e um tipo de mentalidade muito perigoso. 

Logo no título, mas também ao longo de todo o texto, já fica clara a associação que a pessoa faz entre gastar dinheiro e viver, o que é lindo para o capitalismo, mas péssimo para todas as pessoas, porque gera uma compulsão por consumo que nunca é satisfeita, criando pessoas eternamente infelizes e frustradas, sem contar o desperdício e o esgotamento dos recursos naturais e não naturais do planeta.

Mais abaixo, a pessoa distorce o exemplo didático da café - não sei se para justificar seu consumismo para si mesmo ou por má fé. É didático. Ninguém está falando para você nunca tomar café. A mensagem é que a gente perde muito dinheiro sem perceber com gastos pequenos por não considerar que a soma deles pode ser significativa. Ninguém está falando para você nunca mais tomar café, mas talvez deixar de tomar quando não está com vontade (quanta coisa a gente faz só por hábito e depois vai perceber que nem queria) ou fazer o próprio café no escritório e só vez ou outra tomar na rua. Enfim... A vida é cheia de escolhas, e a lição é que a menor delas, quando repetida continuamente, pode ter um grande impacto.

Logo depois, no final da primeira coluna, vem o argumento que me mostrou de fato que o texto não é para mim: o cara valoriza "comprar roupas caras". Vejam... Ele não está falando de roupas bonitas, de alta qualidade, confortáveis. O atributo que ele valoriza nas roupas é elas serem caras. Isso só faz sentido ser valor para quem que mostrar que tem dinheiro, se diferenciando dos pobres, em um contexto de desigualdade social, o que para mim é uma coisa desprezível.

Então ele fala mais de gastar com itens supérfluos (ele usa exatamente esta palavra) e que hoje é pobre, mas não se arrepende. Acho uma tremenda falta de respeito com quem realmente é pobre e passa necessidade na velhice. Ninguém que realmente enfrente dificuldades financeiras quando já está mais velho vai ficar faceiramente falando que está feliz de ter gasto com futilidades. 

Para fechar com chave de ouro (só que não), vem uma citação em que é vangloriado o valor (e não o preço) das coisas. Sim. Das coisas. Roupas caras, cafés, pizzas e itens supérfluos e descartáveis. Ele quer ensinar para o seu filho que isso é o importante na vida: as coisas que se compra. Complicado, não?

8 comentários:

  1. Oi Fernanda,

    Sinceramente, eu achei o texto uma bobagem, você desconstruiu ele corretamente.

    Eu acho que é bom a gente não precisar economizar no cafezinho nem na pizza e ter a opção de poder comprar uma roupa melhor de vez em quando. O legal é ter opção, e isso a gente só tem se não gastar todo o dinheiro.

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  2. Essa foi a vida do Jorginho Guinle. Hoje o filho não tem um tostão e trabalha como agente penitenciário.

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  3. Olá Fernanda, já tinha visto esse texto varias vezes também. Voce colocou muito bem essa questao e o relato dele pode impressionar mas na verdade é bem contraditório.

    Se colocar como alguem que "aproveitou" a vida porque gastou dinheiro é atrelar felicidade e bem estar a consumo, ou seja, a maquininha do capitalismo agradece quem cair nessa.

    Sobre isso recomendo esse video que questiona essa relacao de dinheiro e acumulo material com felicidade: https://www.youtube.com/watch?v=GgBpyNsS-jU&list=LLkbFiBwMYMXAqifXF4xo5Uw

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    1. Exatamente. Muito obrigada pela indicação de vídeo. Vou colocar na minha lista para ver mais tarde ;)

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  4. Muito interessante a reflexão. Já conhecia o texto e concordava com ele, agora nem tanto, rsrs. Bom parar para pensar sobre os conceitos embutidos em alguns pontos de vista.

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    1. Bom mesmo. Hehe... Parece muito bonito o texto, mas eu de cara já senti algum incômodo. Só refletindo ponto por ponto eu fui entendo os motivos.

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