sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Desapegando dos motivos alheios (2)

Já falei aqui sobre aquela mania que a gente tem de sempre perguntar para as pessoas que moram com a gente por que chegaram mais cedo ou mais tarde, e de onde estão vindo ou para onde vão. Mas essa nossa cisma de saber os motivos dos outros inutilmente vai muito mais além.

Quando alguém te chama para fazer alguma coisa e você não vai, as pessoas sempre querem saber o motivo. E você mesmo se sente inclinado a se explicar, a dar uma desculpa, pois é falta de educação e de consideração simplesmente não ir, é preciso um motivo.

Pensando aqui... Saber esse motivo é inútil. Primeiro, porque o motivo não faz diferença para quem convidou. Você sentir falta da pessoa no programa para a qual a chamou não tem a ver com os motivos dela ir ou não, certo? Se ela não for, seja por causa do filho doente ou da preguiça, vou sentir falta dela do mesmo jeito.

Depois que a gente não deveria julgar os motivos do outro. Porque a gente julga. Se a pessoa não foi no seu aniversário porque estava de cama doente, você aceita. Se a pessoa simplesmente estiver cansada demais para sair, aí você já acha que é descaso, que ela podia ter se esforçado. E há motivos ainda mais difíceis de julgar: a pessoa pode estar triste e querer ficar sozinha em casa, pode não gostar do programa, pode preferir fazer outra coisa que ela acha mais importante/legal. E quem somos nós para julgar os motivos dos outros?

E se não vamos julgar, para que queremos saber?

Lembro que quando eu trabalhava nos Estados Unidos, a gente podia faltar vez ou outra apenas ligando pro trabalho e dizendo que tinha um motivo pessoal para não ir. Não precisava explicar o que ia fazer. Era seu direito não ir. Porque, afinal, seu motivo para não ir é seu. Ninguém tem nada a ver com isso.

Eu parei de perguntar e de julgar. Quando chamo alguém para algo e a pessoa diz que não vai, sinto falta dela e pronto. Não fico perguntando o motivo e nem insistindo. Cada um sabe de si e cabe à gente respeitar. Assim, fiquei bem mais livre e mais leve.

6 comentários:

  1. Nunca tinha pensado nesse tipo de desapego,valeu pela dica.

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    1. ;)
      Eu fui percebendo que a gente ocupa espaço não só físico, mas mental também com coisas sem importância. Estou tentando repensar isso.
      Obrigada!

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  2. Eu pergunto apenas se a pessoa precisa de ajuda, se é um problema em que eu possa ajudar de alguma forma. Assim nem fico sabendo, se não for.

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  3. Hahahaha me senti tocada com esse post. Pois é uma coisa que penso que deveria mudar radicalmente. E que vejo que em outras culturas a privacidade da pessoa é importante, e aqui parece que todos tem que saber de tudo da sua vida, e pior: você tem sempre que colocar o outro a sua frente, como se estar cansada, depressiva, com sono, ou preguiça, fossem uma ofensa pessoal a um amigo.

    Já tentei dar a famosa resposta "Já tenho compromisso hoje", mas acho que é o mesmo que nada.

    Vou fazer um botton: Não me pergunte de onde venho. Não me pergunte para onde vou. :)

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    1. Hehe... Eu vou querer um botton desse também. Pode mandar fazer dois. :)
      Sabe... Eu nem ligo muito pra privacidade, mas acho bom poder escolher quando eu quero compartilhar e quando não quero. Concorda? As perguntas e os julgamentos são um saco e tão inúteis...

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