sábado, 28 de fevereiro de 2015

A questão dos presentes

O post anterior gerou muita discussão, como imaginei que aconteceria. Não irei responder os comentários, como faço sempre, já que não fui eu quem escrevi o texto; mas li todos e agradeço muito. Deu muito o que pensar...

Essa questão dos presentes tem me incomodado muito já tem um tempo. Cada vez me causa mais estranhamento demonstrar carinho pelos outros por meio de consumo. Como eu não gosto de consumir, e até evito, me incomoda os outros consumirem para mim ou eu para eles como se fosse algo bom e positivo.

Eu ainda não sei direito como agir em relação a isso. Minhas ideias ainda não estão muito bem delineadas.

Por mim, eu nunca daria e nem ganharia presentes. Eu demonstraria carinho e atenção com as minhas ações, durante o dia-a-dia, e não só por aqueles com que eu tenho uma relação próxima. Eu tento mesmo agir de acordo com que eu acho que seria melhor para a coletividade, para o mundo. Um pouco idealista, eu sei.

Mas as pessoas pensam e sentem de maneira diferente. Então não tenho como negar o valor que presentear tem para a maioria delas. E, como eu falei, tento pensar no melhor para todos. Fico então nessa situação sem saída.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Passando presentes pra frente

Segue abaixo um guest post de uma leitora que preferiu não se identificar:

Oi, eu sou uma admiradora do conceito de Minimalismo e vou escrever o que talvez seja uma das coisas mais polêmicas que já escrevi em toda a minha vida, mas eu tenho um problema com ganhar e dar presentes. 

Olha, não é para ofender ninguém. Eu acho linda a ideia de querer agradar. Linda mesmo! Tanto que é que, mesmo tendo problemas com o assunto, eu continuo oferecendo presentes pra muita gente. Mas eu não gosto de duas obrigações que estão ligadas a esse momento. O primeiro é que quando ganhamos o presente temos a obrigação de gostar. É falta de educação recusar um presente, assim como também trocar o presente é mal visto (isso quando é possível, pois muitas vezes não é). A outra obrigação é a obrigação de dar presentes. No natal tem que dar presentes, se o amigo casa, você tem que comprar um presentão, se é aniversário, manda outro presente, se você viajar, tem que levar presentes pro mundo inteiro. É obrigação demais em cima de uma coisa que deveria ser só prazer e gentileza. 

Aí, nessa loucura que virou presentear, além de eu perder boa parte do meu dinheiro quando meus amigos começaram a casar, ainda coloquei em ação uma ideia que não foi das melhores… Comecei a aproveitar presentes ganhados que não teriam utilidade para mim, para passar pra frente. Ou seja, o vestido rosa que ganhei de aniversário de uma amiga que não me conhecia muito bem e não sabia que eu não gostava dessa cor, doei para minha prima, que ficou linda com aquele vestido! No entanto, passei a ter que controlar encontros entre a minha prima e a minha amiga (conhecida!). Se elas se esbarrassem e descobrissem a minha tramóia, teria um problema diplomático. Mesma coisa aconteceu com um porta-retrato moderninho que recebi de um colega de trabalho e repassei para um tio do meu marido em seu aniversário. O porta-retrato não tinha muita função aqui em casa, até cheguei a separar um lugar pra ele, mas realmente não tinha nada a ver. Parecia uma ótima ideia, já que eu não sabia muito bem o que levar para o tio em seu aniversário. Pensei comigo que o colega nunca viria aqui em casa e passei pra frente. Mas o colega veio, e perguntou pelo porta-retrato quando eu já havia me esquecido do caso. E tive que inventar que estamos guardando as coisas novas numa caixa para usarmos depois da reforma (que reforma?). 

Algumas vezes eu até usava o presente e quando achava que já estava bom, passava pra outra pessoa. Mas sempre existia alguma cobrança e algum receio de que a pessoa descobrisse o feito. Era culpa demais pra quem não quer perder tempo nem espaço com coisa inútil. 

Eu entendo que quem dá o presente, quer que ele seja usado. É tão sem lógica investir em algo que não terá serventia nenhuma… por isso que hoje, quando dou um presente pra alguém, sempre faço a ressalva «se você não gostar, ou não servir, pode passar pra frente, eu entendo perfeitamente». Mas nem todo mundo entende e minha vida ficou muito mais complicada depois que achei que tinha tido uma boa ideia para descomplicá-la. 

Infelizmente, não são todas as pessoas que vão assimilar os nossos gostos e as nossas necessidades. Mas eu também preciso ficar mais aberta para ganhar as coisas. Pensei. Se alguém te dá um presente é porque gosta de você. E quer que você se lembre dele ao ver o presente (deve ser por isso que chama presente, né?!). Tudo bem que um vestido rosa não me atrairia em nada. Mas um vestido verde, que é outra cor que não costumo vestir, já me serviu em várias ocasiões inusitadas, e era presente também. Já descobri ótimas músicas ouvindo Cds que havia ganhado (na época em que se usava dar Cds de presente). Agora, se a coisa não serve mesmo, ou não combina em absolutamente nada comigo, o que vou fazer é tentar trocar discretamente, mas sem fazer segredo e se não for possível, esperar um tempo de segurança e depois passar pra frente. Não consegui pensar numa alternativa melhor. Alguém tem alguma sugestão?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Ser autêntica

Uma coisa que tenho percebido é que, em geral, os europeus são bem mais diretos do que os brasileiros. Se ele te convida pra ir na casa dele, é porque ele quer que você vá à casa dele. Se ele marca um horário, é porque ele espera que você chegue naquele horário. E, se você pergunta pra ele "se ele quer alguma coisa", ele vai achar que a pergunta é genuína e pode querer, sim (vide o caso do holandês que respondeu com "sim, um belo tecido japonês para decorar minha casa").

Isso faz com que eles sejam bem menos simpáticos do que os brasileiros, claro. E é claro que tem brasileiros que são genuínos em seus convites e desejos. Mas eu acho que a gente tem toda uma cultura de "passa lá em casa" e "vamos combinar qualquer coisa" que é só palavrório. Tenho uma prima (adorável, por sinal) que, toda vez que a gente se encontra em uma festa de família, fala "vamos nos encontrar sem falta, eu te ligo esta semana". E nunca liga.

Então, como eu também nunca fui muito boa nesse jogo social, estou tentando trocar as palavras vazias por vontades verdadeiras. Até porque o "vamos combinar" é tão automático que eu não paro pra pensar se quero ficar mais próxima da pessoa. Se sim, tenho de fazer um esforço extra, né? Como ligar para a minha prima, em vez de ficar esperando que ela faça isso.

Enfim, esse papo todo é pra dizer que tenho tentado ser mais autêntica, mais em contato comigo mesmo. E ser direta com as pessoas é uma boa maneira de fazer isso. Ao mesmo tempo, quero também ter mais empatia, e acho que conhecer a mim mesma é um bom primeiro passo.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Guest post: Quando ter menos roupas significa ter mais estilo

A Inês Catarina Pinto é a dona do blog Minimal, e ela escreveu este post pra gente:

"No nosso dia-a-dia somos constantemente atacados com a ideia de que precisamos de mais coisas e isso é especialmente notório na indústria da moda, que nos quer fazer acreditar que precisamos sempre de mais coisas. Seja de uma camisola porque os dias estão a ficar frios, de uns sapatos porque os nossos estão velhos ou de um vestido porque ninguém quer aparecer nas fotografias com a mesma roupa em duas ocasiões diferentes.

Contudo, quando pensamos que a indústria da moda não pode persuadir-nos mais com objetos surge uma nova forma de nos cativar. As publicidades começam assim a vender-nos ideais, sonhos e um estilo maravilhoso que estava ao alcance da compra da mais recente lingerie, dos sapatos da moda ou de um vestido similar ao da nossa celebridade preferida.

Durante muito tempo eu vivi encantada com a luz ofuscante da publicidade. Afinal, as publicidades de moda são como uma Disneyland para adultos. Mas quando eu chegava a casa com as minhas compras o encanto desvanecia e as promessas continuavam por cumprir. Foi aí que percebi que a solução para alcançar um estilo melhor não estava nas coisas que a publicidade me dizia para comprar, estava naquilo que eu realmente gostava e precisava.

Esta é a razão porque a maior parte de nós sente que não tem nada para vestir, porque há demasiada roupa e demasiados conceitos a bloquear aquilo que nós realmente gostamos e aquilo que queremos transmitir. Resumindo, nada nos afasta mais de encontrarmos o nosso próprio estilo do que deixarmo-nos levar pelas sugestões do mais recente diretor de publicidade da nossa marca preferida.

Quando decidi concentrar-me nos meus próprios gostos achei que estava na altura de regressar ao básico. Assim, comecei a apaixonar-me por um estilo minimalista, livrei-me de todas as coisas que não usava e passei a comprar apenas peças básicas que fossem essenciais para mim e que fossem altamente combináveis entre elas. Desta forma consegui livrar-me das manhãs em que não tinha nada para vestir e consegui encontrar o meu estilo pessoal, longe das influências alheias.

Ao estar satisfeita com a minha roupa deixei de me sentir tentada com as últimas coleções e com as tendências mais recentes. Quem diria que a sensação de não-ter-nada-para-vestir só iria passar quando não tivesse mesmo quase nada para vestir."

As fotos abaixo são do armário-cápsula de outono da Inês (eu, que sou fã de preto-e-branco, adorei!):








quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Aproveitar a natureza: é maravilhoso e de graça. Mas até quando?

Aqui em Belo Horizonte tem feito um calor infernal. Então eu aproveitei um fim de semana desses, entrei no carro junto com o marido e nos mandamos para a estrada. Andamos cerca de 100 km até chegarmos a uma cachoeira.

Foi uma hora de viagem tranquila. A cachoeira estava vazia e andamos uns cinco minutos até chegar lá. E então foi só aproveitar. Paisagem bonita, água refrescante, silêncio, companhia agradável. Foi tão bom... E tão barato!

Eu fico pensando no tanto que a maioria das pessoas - eu entra elas algumas vezes, confesso - gasta rios de dinheiro com programas caros e trabalhosos quando a gente pode ter tanto prazer de graça. 

É então que eu olho para o lado e vejo umas latinhas de cerveja jogadas em um canto. Na volta, passo pelas montanhas que a Vale destruiu.

E isso tudo me lembra que infelizmente a gente tem cada vez menos dessa natureza maravilhosa e de graça para aproveitar.