Eu já falei aqui no blog sobre como eu achava que os europeus, em geral, menos consumistas do que os brasileiros em relação ao vestuário. Que o povo tem um casaco de inverno só, de boa qualidade, e o usa durante anos. Que eles não ficam seguindo modinha.
Também falei que os apartamentos pequenos forçam os europeus a serem seletivos nas compras - não cabe muita coisa em casa, então o jeito é ter menos objetos.
Vamos retomar o tema? Porque eu acho que estava enganada.
A teoria sobre o bom e único casaco de inverno eu mantenho, por enquanto. Mas quanto ao consumo...
Temos ficado em vários apartamentos nesta viagem. Alguns são preparados especialmente para os viajantes: neles tem o necessário para uma estadia (roupa de cama e banho, equipamentos de cozinha) e só. Mas, algumas vezes, os apartamentos são habitados pelos donos, e eles os alugam de vez em quando para ganhar um graninha.
E aí pode ser na Irlanda, na Inglaterra ou na França: tem europeu que não joga nada fora, nunca (ou pelo menos é o que parece). Nos apartamentos habitados, a gente encontra gavetas, estantes, armários, prateleiras e mesas repletos de roupas, livros, garrafas, estátuas, revistas, cds, velas, cestas, caixas, brinquedos. Paredes - inclusive do banheiro - recobertas de quadros, pôsteres, retratos, desenhos. Em cada maçaneta tem uma guirlanda, uma enfeite ou uma sacola. Some-se a isso paredes coloridas, tapetes estampados, móveis de diversos estilos e lustres variados.
Acho engraçado e excessivo. Como passamos poucos dias em cada lugar, o bagulhismo alheio não chega a incomoda muito (só quando não há uma única superfície livre pra botar a mala. Botamos no chão, paciência). Talvez, antes de adotar o minimalismo, eu nem percebesse o exagero de objetos.
Mas hoje eu percebo e fico perplexa. Não só acho difícil relaxar em ambientes com tanta informação, como penso na dificuldade que é fazer a limpeza. Ai, o pó que se acumula em cima de tanta superfície em exposição.
O Leo diz que essa é uma preocupação que muita gente não tem. Que a nossa mania de limpeza é bem brasileira. De fato, talvez seja algo cultural. Em Portugal, ficamos em apartamentos limpíssimos; na Irlanda do Norte, encontramos os banheiros mais imaculados do mundo. Já nas casas bagulhentas, nem sempre a higiene é proporcional à acumulação.
É aquela coisa: quanto mais posses, mais tempo e esforço são necessários para manutenção e limpeza. Se a pessoa não tem tempo...
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A vida do dono-de-casa.../É uma luta danada |