A Fer Santos deixou um depoimento ótimo nos comentários e eu pedi a ela para transformá-lo em um guest post. Achei muito legal encontrar alguém que faz os mesmos questionamentos - e encontra a mesma alegria nos resultados - que a Fernanda aqui do blog e eu.
Às vezes me parece que, para uma boa quantidade de mulheres, o minimalismo é complicado porque toca em um ponto nevrálgico: a aparência, e a nossa crença que precisamos ser belas para termos valor. Dá pra ser feliz sem um armário cheio de roupas e um banheiro cheio de cosméticos? Eu acho que dá, e a Fer acha também.
"Estou
num processo intenso de avaliação dos meus valores como mulher e sobretudo como
pessoa. E por isso estou te escrevendo pra dar um depoimento sobre a minha
entrada no minimalismo.
Sempre fui uma criança peralta e curiosa. Gostava de ler. Tenho TDAH
e por isso tinha hiperfocos de passar 3 dias seguidos lendo um livro sem querer
fazer mais nada.Também gostei de Barbie, de brincar na rua, jogar futebol, fui uma
criança feliz.
Mas aí chegou a adolescência e com ela todo tipo de
encanações com a minha aparência. Eu não me achava bonita, nunca achei. Todo
mundo dizia que eu tinha um corpo lindo, mas que meu nariz de batata e meu
cabelo cacheado me deixava com cara de pobre. Sim, diziam ISSO. E hoje vejo q essa
frase contém tantos absurdos (nariz e cacho classifica alguém socialmente? Ser
pobre é defeito?) que prefiro nem me delongar nisso.
E nessa acabei crescendo
com alguns valores bem distorcidos em relação a auto-imagem.
Maquiagem não
era pra me sentir bonita, brincar com as cores. Maquiagem, pra mim, tinha uma
função corretiva, de esconder meus “defeitos horríveis”.
Comecei a comprar
muita roupa, andar super arrumada pra ficar “bonita”. Gastei fortunas
nisso.
Sempre odiei salto, mas tinha vários pares pq “mulher sem alto não dá”
e “tu tem corpão, mostra essas pernas que são o teu forte”.
Sempre gostei de
ler, mas nos últimos anos percebi uma compulsão na compra de livros e não na
leitura deles. Hoje vejo que comprava tantos livros porque eles representavam a
imagem q eu queria projetar .
Tudo isso porque na minha cabeça, pra me sentir
aceita eu tinha que estar adequada. E adequada, pra mim, era mais do q ser
inteligente, culta, arrumada e bonita. ERA PARECER TUDO ISSO.
Só que esse ano
fiz 34 anos. E começou a me bater um sentimento de PORQUE RAIOS EU VOU ME IMPORTAR
COM QUEM SÓ VAI ME JULGAR? Por que eu preciso deixar de tomar cerveja com meus amigos
pra passar o sábado no cabeleireiro? Por que é coisa de mulher? QUEM
DISSE?
Resolvi adotar o minimalismo e está sendo libertador, porque eu não estou
só descartando COISAS, mas sobretudo CRENÇAS que me aprisionavam.
Faz três
meses que não compro NADA, doei várias coisas, sobretudo roupas q não combinavam
comigo. Também parei de fazer as unhas, doei todos os meus saltos altos. Meu marido
(q é única pessoa q me importa nesse contexto) me acha bonita e bacana de
qualquer jeito.
Ainda uso corretivo, rímel. Adoro me maquiar, usar batom
vermelho, acho lindo, teatral. Mas é um processo mais consciente, e sobretudo
mais divertido. Curtição mesmo.
Mas é todo um processo. E teu blog me ajudou
muito nesse sentido."
Gato feliz. Igual a gente.